Código: RC060
Área Técnica: Neuroftalmologia
AMAUROSE BILATERAL POR NEUROCRIPTOCOCOSE EM PACIENTE IMUNODEPRIMIDO NAO-HIV
Relatar um caso de amaurose bilateral em paciente imunocomprometido, HIV negativo em investigação para Síndrome de Jó
IAC, 31 anos, masculino, iniciou quadro de cefaleia há 15 dias de caráter progressivo associado a febre. AP revelavam neurocriptocose prévia e história familiar de doenças típicas de imunodeficiência. LCR na admissão revelou hipertensão intra-craniana e leveduras sugestivas de Cryptococcus sendo iniciado tratamento clínico. Solicitado sorologias para HIV (negativos). Evoluiu com dificuldade de se comunicar, andar e abriu quadro de amaurose bilateral sendo solicitado parecer para oftalmologia. Ao exame oftalmológico: AV de percepção luminosa em OD e conta dedos ante-face OE, restrição total de abdução de ambos os olhos, pio de 8 OD e 10 OE, biomicroscopia sem alterações, fundoscopia com papila rósea de bordos nítidos, escavação de 0,7 AO. Paciente foi submetido a derivação ventrículo-peritoneal para controle da HIC. Após 8 dias apresentou paralisia de hemiface à direita com lagoftalmo evoluindo com ceratite ponteada e inicio de palidez de papila em AO. Realizado tarsorrafia temporária e colírio lubrificante e mantido tratamento clinico em regime multidisciplinar. Após 1 mês da admissão apresentava AV sem percepção luminosa OD e conta-dedos ante-face OE, papila pálida em AO (com remanescente corado em região nasal em OE) e defeito pupilar aferente relativo. Evoluiu com múltiplas complicações clínicas durante a internação, sendo investigado Sd. de Jó e tendo alta hospitalar após 4 meses da admissão com melhora clínica a despeito de quadro ocular mantido.
A neurocriptococose relaciona-se a estados de imunocomprometimento e pode gerar comprometimento visual importante, por vezes catastrófico, como no caso apresentado. A lesão do nervo óptico pode ocorrer por lesão direta de criptococos, elevados títulos de Ac contra os mesmos ou indiretamente por HIC sustentada. A Sd. de Jó, hereditária e extremamente rara, gera imunodeficiencia celular e humoral, contribuindo nesse caso para o desenvolvimento do quadro ocular.